Não é só no Big Brother Brasil que os confinados da Xepa só conseguem comprar ovo, fígado ou rabada. Fora do reality show, os brasileiros também precisaram substituir a carne por outras proteínas para driblar a inflação dos alimentos durante a pandemia.
“O preço da carne se transformou ao longo do ano passado e vem se mantendo nesse patamar. Virou artigo de luxo, uma opção para momentos especiais”, disse Thiago Bernardinho, pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da USP. “Um amigo que mora nos Estados Unidos há 20 anos me disse: bem-vindo ao mundo do churrasco de hambúrguer.”
A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estima que o consumo da proteína animal foi de 29,3 quilos por habitante em 2020, uma queda de 5% em relação a 2019. Foi o menor patamar de consumo desde o início da série histórica, iniciada em 1996.
Se a carne de origem bovina ficou mais rara, o ovo se tornou mais presente no prato do brasileiro. No ano passado, o consumo per capita de ovo foi de 120 unidades – era de 91 ovos por habitante em 2019. “Hoje, o ovo é considerado a proteína mais barata que existe pro consumidor”, disse o vice-presidente sênior da Abras, Marcio Milan.
Por que essa substituição? Porque o preço da carne de origem bovina está pela hora da morte. O quilo do acém, um dos cortes mais populares, passou de R$ 22,21 para R$ 30,51 de janeiro de 2020 para janeiro deste ano, um aumento de 37,37%, segundo dados do IEA (Instituto de Economia Agrícola), que monitora preços do varejo em São Paulo.
O músculo subiu ainda mais (42,98%), passando de R$ 22,50 em janeiro de 2020 para R$ 32,17 no mês passado. No mesmo período, a alcatra passou de R$ 34,81 para R$ 42,30, um avanço de preço de 21,52%.
É só ovo que está funcionando como substituto? Dados da Estatística da Produção Pecuária, divulgada pelo IBGE, indicam que as carnes de frango e de porco também serviram como substitutas da proteína bovina.
No 4º trimestre de 2020, o abate de bovinos caiu 10,3% em relação a igual trimestre de 2019. No mesmo período, o abate de suínos aumentou 1,6% e o de frangos teve alta de 5,5%.
Nas pesquisas do Cybercook sobre carne vermelha, o termo mais digitado foi carne moída, com 2,5 mil buscas. “Mas quando olhamos para o segmento de proteínas animais em geral, o frango liderou as pesquisas, com um total de 2,7 mil inserções”, diz Canatella.
Outro destaque, segundo ele, foram as buscas por peixes. “A procura por esse produto se manteve bastante constante por todo o ano, e teve um grande pico na época de Páscoa, como uma alternativa mais barata ao bacalhau, visto que estávamos próximos ao começo da pandemia da Covid-19, em um momento de muitas incertezas.”
O preço vai cair? Para Bernardino, do Cepea, é difícil que a carne volte aos patamares de preço do começo de 2020. “Os fatores que puxaram o preço continuam presentes, como oferta restrita no campo, custo alto de reposição de bezerros, alimentação cara. Enquanto as exportações de milho e soja continuar em alta, o custo de produção sobe e o produtor de carne recua. Também tivemos um atraso na chuva, que interfere no pasto e alimentação dos animais.”
Fora isso, segundo ele, o dólar alto favorece as exportações de carne. “Se o dólar continuar alto, as vendas externas continuam aquecidas.”
As informações são do site: 6MINUTOS