“Não manda a máfia pro Brasil, que o Brasil esculhamba a máfia”. |
Uns caras pra lá de maucas (forma apocopada de mau caráter) da Gaviões da Fiel embarcam pra Bolívia levando a sua fama “à tiracolo”. Na mochila, uns sinalizadorezinhos de marinha. Um deles, disparado, mata um menor boliviano. Doze são presos lá, por suposta autoria e cumplicidade. No Brasil, um advogado (da Fiel) acusa o seu cliente, convenientemente menor de idade, da autoria (é verdade, o advogado disse “vou provar que o meu cliente é o responsável”). O objetivo é livrar os doze que lá estão. Nada na história do menor fecha com o que se viu e ouviu.
Como o inquérito é sigiloso (por envolver um menor de idade), não se sabe o que disse, de fato, tampouco o que lhe perguntaram. A seu turno, as notícias de lá da Bolívia dão conta de que os brasileiros detidos já demarcaram o seu terreno, criaram a sua ala. Já são respeitados pelos criminosos daquelas bandas e querem comprar uma TV, socializando-a. Já estão dando uma cara de prisão brasileira ao local. Poucos dias após, em ação mundialmente inédita, quatro “engravatados” torcedores do Corinthians, invocando o Código de Defesa do Consumidor, buscaram desconstituir a penalidade desportiva aplicada pelo Comitê Disciplinar da Conmebol, que tem força de legislação pátria (em função da Lei Pelé), pleiteando uma liminar para que pudessem assistir a um jogo que deveria ser de “portões fechados”. Pra espanto geral, conseguiram. Nós, brasileiros (não consigo me excluir disso, por mais que me esforce), somos mesmo incríveis!!!
Em uma semana, apenas, ceifamos a vida de um menor num campo de futebol, apresentamos ao mundo um advogado que acusa um cliente seu, minamos o sistema prisional da Bolívia e, se tudo der certo, acabamos com as regras disciplinares do desporto. Ah, mas não é só coisa ruim que fazemos! Agora, acertado um amistoso do Brasil com a Bolívia, por conta do Presidente Zé das Medalhas, todos se comoverão com a nossa bondade, com o nosso desprendimento, a nossa solidariedade. Essas situações me fizeram lembrar, de novo, daquele bordão do mafioso Don Casqueta (personagem do Jô Soares no “Viva o Gordo”), que era mais ou menos assim: “Não manda a máfia pro Brasil, que o Brasil esculhamba a máfia”. E não é que esculhambou memo?
*Paulo Doering é advogado e auditor do TCE do RioGrande do Sul